Há décadas, a biotecnologia e as ciências biológicas ocupam um papel fundamental na humanidade. Seu estudo nos ajuda a entender como funciona a vida. Isto é essencial, pois significa saber usar estes conhecimentos e ter a capacidade de os empregar como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
A palavra biotecnologia foi ressonando na mídia nestes últimos tempos e sua presença na vida cotidiana torna-se mais evidente dia a dia em forma de vacinas, diagnóstico, energia e alimentos, entre outras coisas. Isso demonstra que é realmente uma disciplina elementar para o desenvolvimento da nossa sociedade atual. Por esta razão, ano após ano temos mais intervenções da susodicha, bem como um número crescente de pessoas dedicadas a isso.
No entanto, por mais que estejamos rodeados desta tecnologia, ainda continua passando despercebida para muitas pessoas. Hoje, proponho-vos perguntar o que é a biotecnologia e porque está a moldar o nosso futuro, por mais que algumas vezes seja algo invisível aos olhos de muitos.
O que é a biotecnologia?
A biotecnologia é uma ciência especializada que combina técnicas avançadas de biologia molecular, bioquímica e genética. enfoca-se na manipulação de organismos vivos e moléculas biológicas para criar produtos e otimizar processos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esta disciplina tem um amplo campo de aplicação em diversas áreas. Entre elas podemos encontrar a indústria de medicamentos e alimentos, o design de vacinas, a agricultura, os biocombustíveis e outras.
Por mais moderna que soem, a biotecnologia não é uma disciplina recente. Suas raízes remontam à antiguidade. Por exemplo, os antigos egípcios usavam leveduras para fazer pão e cerveja, enquanto os sumérios empregavam técnicas de fermentação para fazer vinho. Esse tipo de métodos foram aproveitados por milhares de anos, embora nem sempre se compreendiam os processos biológicos subjacentes.
À medida que novas descobertas foram realizadas em relação ao que acontece “detrás” dessas técnicas, essas foram aperfeiçoadas. Hoje em dia a nossa vida é muito mais simples graças à biotecnologia.
Alimentos funcionais
A deficiência da vitamina A é a causa da maior parte dos casos de cegueira noturna no mundo e impede o desenvolvimento correto do sistema imunitário em infantes. Por esta razão, a OMS (Organização Mundial de Saúde) considera que a falta desta substância é uma das problemáticas que mais afeta a população em questão de saúde.
Graças à biotecnologia, podem ser criados alimentos contendo compostos biologicamente ativos. O conhecido “arroz dourado”, trata-se de um alimento transgênico elaborado como possível solução para a grande deficiência de vitamina A. Este grão é geneticamente modificado para adquirir a capacidade de produzir betacarotenos, uma substância necessária para o fabrico desta vitamina.
Culturas GM
Para proteger as culturas agrícolas dos insectos, é implementada a utilização de quantidades significativas de agroquímicos. No entanto, seu uso descuidado pode levar a problemas ambientais como a contaminação do solo e água, o que deriva na perda de biodiversidade. Em termos de saúde humana, o uso de pesticidas pode ter efeitos tóxicos nas pessoas que se encarregam de sua manipulação e aplicação, causando, por exemplo, problemas respiratórios.
As plantas BT são uma invenção da biotecnologia. Estas são plantas transgénicas resistentes a certas espécies de insetos. Seu nome provém da bactéria Bacillus thuringiensis. Em certas ocasiões, a bactéria gera esporas onde acumula uma proteína que é tóxica para os insetos.
Pode-se dizer que é um inseticida natural e não nocivo para os humanos, pode ser implementado em culturas que deriven em produtos aptos para consumo humano.
Proteínas fluorescentes
As proteínas fluorescentes são uma ferramenta de grande ajuda, pois nos permitem visualizar processos que são invisíveis ao olho humano. A GFP (Proteína Verde Fluorescente) emite fluorescência ao ser exposta à luz ultravioleta.
Esta molécula é produzida pela medusa Aequorea vitória. O gene que codifica para a GFP pode ser isolado deste organismo através de engenharia genética. Uma vez isolado, pode ser introduzido numa célula de outro organismo. Uma das muitas aplicações desta técnica implica a observação do desenvolvimento da metástases de câncer em ratos. O gene é inserido in vivo nas células cancerosas e com esta informação, sintetizam a GFP. Isso implicaria que, ao iluminar com luz UV, brilhassem. Dessa forma, pode-se observar a evolução do câncer através de microscopia intravital.
O grande dilema da engenharia genética
É certo que as tecnologias continuarão a progredir até atingir um potencial inimaginável. Não é irracional pensar que a evolução das tecnologias aplicadas no campo da medicina nos levará, num futuro não muito distante, à alteração do genoma humano em grande escala.
Em 2020, as cientistas Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier receberam o prêmio nobel de química após ter decifrado uma técnica chamada CRISPR-cas9 com a qual é possível modificar o código genético: pode-se indicar a uma enzima que corte uma sequência específica para que seja modificada por outra. Isto leva-nos à possibilidade de trocar sequências de ADN malignas por umas saudáveis. Esse avanço levaria a sociedade a projetar um mundo em que os casos de indivíduos que sofrem de doenças hereditárias poderiam ser reduzidos com o tempo.
No entanto, essas modificações que parecem fazer nada mais do que o bem, podem ser utilizadas para outros propósitos. É um fato que, se um pai é portador de um gene que aumenta as possibilidades de desenvolver uma doença com alta taxa de mortalidade, esse vai querer diminuir as chances de que seu filho a herede. No entanto, é primordial estabelecer um limite sobre o que podemos, ou não, mudar.
A linha ética: até onde podemos chegar com a manipulação genética?
Mas então... Onde desenhamos a linha para o uso aceitável? Graças às novas tecnologias, a realidade aproxima-se cada vez mais da ficção científica e por mais difícil imaginar que seja, não é desacertado pensar que em algumas décadas teremos a opção de projetar os indivíduos para virem ao mundo. De sua cor de pele até sua aptidão física, todas são características que estão expressas no código genético em forma de sequências que, por ende, poderiam ser alteradas.
Como é de se esperar, esta técnica abriu as portas a grandes debates sociais e éticos. Os grupos religiosos em especial argumentam que o homem deve ser recebido ao mundo da forma que Deus quis e que, mediante a engenharia genética, os cientistas estariam brincando a ser Deus, o que causaria um desbalance no ciclo da vida. Outros mencionam que o serviço será acessível para poucos, pois o tratamento provavelmente terá um custo muito elevado. Por isso, geraria uma lacuna ainda maior entre as pessoas de baixos e altos recursos.
Embora esta tecnologia esteja em pleno desenvolvimento e seu uso em embriões não seja aprovado, a sociedade deve se preparar para uma conversa desconfortável sobre os questionamentos morais e éticos em relação à implementação da técnica CRISPR-cas9. Sim, é controverso, mas poderia ser uma ferramenta de alta efetividade para reduzir o sofrimento humano e seria desperdício que pelo egoísmo do homem se implemente pelas razões erradas.
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