Imagine-se um domingo em sua casa ao meio-dia, você se reúne com seus entes queridos para passar o dia e sua avó cozinha como prato principal uns espaguetes com molho.
Todos à mesa sabem que assim que a panela tocar a mesa, não vai sobrar nem um fio de massa. Quando você começa a enrolar os fideos no garfo, percebe que são longuíssimos e, por mais que um italiano fique irritado, você vai ter que cortá-los para poder comê-los. É uma luta cara a cara entre sua boca e o comprimento dos fideos.
Agora, leve essa mesma imagem a uma escala cósmica. Imagine que em vez de você e seu garfo, quem enfrenta o estiramento infinito é uma estrela completa. E em vez de sua boca esperando o pedaço, o que a aguarda é um buraco negro, com um apetite que faria sua avó corar em um domingo.
A gravidade começa a puxar mais forte de um lado do que do outro, como se as extremidades da estrela fossem dois fideos distintos. O resultado: a estrela se estica, se retorce e se rompe até se tornar um verdadeiro espaguete cósmico.

Esse processo tem um nome próprio: espaguetização. E embora soe engraçado, é um dos fenômenos mais extremos e violentos que conhecemos no universo.
Um buraco negro é um ponto de alta densidade no Universo, gerado como resultado da explosão de uma estrela em forma de supernova nas últimas fases de sua vida. A força da gravidade que geram é tão potente que praticamente nenhum objeto que entre pode sair, nem mesmo a luz. A essa gravidade, os astrônomos chamam "forças de maré", e são justamente essas marés espaciais que transformam as estrelas que passam perto dos buracos negros em fios de matéria, iluminando o universo com brilhos tão intensos que às vezes superam toda uma galáxia.
Será que a Terra poderia cair em um buraco negro?
Os buracos negros são reais e estão em nossa galáxia, mas o mais próximo está a cerca de 1.600 anos-luz. Isso significa que precisaríamos viajar uma distância impossível até mesmo para a luz em várias vidas humanas para chegar até ele.
Além disso, a Via Láctea tem um buraco negro supermassivo em seu centro (Sagitário A), mas ele está a 25.000 anos-luz da Terra. Muito longe para nos afetar.

A gravidade de um buraco negro é perigosa apenas se você se aproximar demais dele. Se o Sol fosse repentinamente substituído por um buraco negro com a mesma massa, a Terra continuaria orbitando normalmente: não seríamos lançados nem cairíamos. A grande diferença seria que ficaríamos sem luz nem calor.
A espaguetização nos mostra que o universo pode ser tão poético quanto imponente e, se o focarmos de um ponto de vista científico, é uma janela que nos permite estudar esses gigantes ocultos que habitam as galáxias.
Então, da próxima vez que você estiver diante de um prato de espaguete no domingo, pense que lá fora, em algum canto do cosmos, uma estrela inteira pode estar vivendo seu último almoço.
Por Sol Aebi, estudante de Biotecnologia da UADE
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