20/02/2025 - tecnologia-e-inovacao

Transforming the Electorate: Neuroscience, Social Networks and Politics in the 21st Century (Transformar o eleitorado: neurociência, redes sociais e política no século XXI)

Por Florencia Constanza Alcaraz

Transforming the Electorate: Neuroscience, Social Networks and Politics in the 21st Century (Transformar o eleitorado: neurociência, redes sociais e política no século XXI)

Ao longo da história, tem-se defendido que as sociedades tomam decisões com base num raciocínio lógico e racional. Tanto Max Weber como Émile Durkheim defendiam que as acções dos indivíduos eram cada vez mais racionais, relegando as emoções, os valores, a fantasia e a religião para esferas pessoais ou espirituais. Durante muito tempo, as emoções ocuparam um papel secundário nas ciências sociais, sendo consideradas desvios da ação racional. No entanto, em meados do século XX, a teoria social começou a reavaliar a importância do afetivo na vida social, gerando um interesse renovado na relação entre as emoções e a política.

Atualmente, a política está profundamente marcada pela paixão e pela irracionalidade. A neurociência sugere que 98% do pensamento humano é inconsciente, o que realça o papel central das emoções na tomada de decisões. No seu artigo para o livro "Emotions in Politics and Campaigning" da Associação Europeia de Consultores Políticos, George Lakoff sublinha que as emoções influenciam a forma como processamos a informação política, uma vez que estão intrinsecamente ligadas aos nossos valores e identidade. Ao votar, as pessoas não escolhem com base nos seus interesses materiais, mas sim com base na sua identidade e naqueles que percepcionam como semelhantes (Haime, H. 2013, p. 30). A política envolve questões fundamentais para a identidade individual e colectiva, como a justiça, a igualdade e a pertença, o que reforça o impacto emocional nas decisões políticas.

Os eleitores do século XXI sofreram uma mudança radical na sua perceção da política. Já não se identificam necessariamente com as divisões ideológicas tradicionais de esquerda e direita, e muitos vêem a política como uma atividade "suspeita", desligada de valores altruístas. Ao contrário das gerações anteriores, que viam a política como um espaço de solidariedade e de luta por ideais, os novos eleitores tendem a encará-la como uma via para o lucro pessoal. Esta mudança explica-se em parte pelo contexto em que cresceram: uma era de crise ideológica que enfraqueceu o comunismo, o machismo, o racismo e outros mitos e valores que foram decisivos no passado. Além disso, o impacto da tecnologia tem sido crucial, pois os jovens de hoje incorporaram o mundo digital como parte fundamental do seu quotidiano, alterando a sua relação com a informação e a política.

Se a política mudou devido à transformação dos eleitores e dos seus valores, como é que se pode modernizar para captar o interesse desta nova sociedade? Embora responder a esta questão na sua totalidade seja um desafio, um aspeto fundamental da solução reside no papel das redes sociais na participação política.

Os novos eleitores têm uma relação estreita com a tecnologia e as redes sociais, utilizando-as para informar, debater e estabelecer contactos com outros eleitores. Plataformas como o Facebook, o Twitter, o Instagram e o YouTube tornaram-se ferramentas centrais para o debate político, permitindo a divulgação de informações e a formação de comunidades políticas em linha. A neurociência também contribuiu para a compreensão da forma como as redes sociais moldam a opinião política. Marco Iacoboni (2009), no seu livro "Mirroring People: The Science of Empathy and How We Connect with Others", argumenta que as atitudes políticas são em grande parte moldadas pela afinidade com outros indivíduos que partilham valores e ideias semelhantes sobre a organização da sociedade. Este fenómeno pode ser relacionado com o conceito de "ativação em cascata", que descreve o processo pelo qual os utilizadores amplificam conteúdos com os quais concordam, gerando um efeito de reforço nas suas comunidades digitais (Gatica Mancilla, 2021, p. 16).

Embora as redes sociais tenham democratizado o acesso à informação política, elas também apresentam desafios significativos. Embora estas plataformas permitam a expressão de opiniões diversas, podem também gerar polarização, desinformação e discursos de ódio. O anonimato e a falta de interação física facilitam a difusão de mensagens agressivas e a desumanização dos opositores políticos. Como salienta Gustave Le Bon em A Psicologia das Massas, a dinâmica de grupo pode levar ao desaparecimento da personalidade consciente e à predominância de reacções emocionais e impulsivas. Neste contexto, o controlo das emoções e o incentivo ao debate racional nas redes sociais representam um desafio considerável.

Em conclusão, a emergência de novos eleitores, a influência da neurociência na política e o impacto das redes sociais transformaram a paisagem política contemporânea. A transição de uma política baseada na racionalidade para uma política centrada na emoção e na identidade exige novas estratégias de comunicação e de envolvimento. Embora os meios de comunicação social ofereçam oportunidades únicas para estabelecer contactos com os eleitores e mobilizar a opinião pública, é também necessário desenvolver mecanismos para atenuar a polarização e incentivar um debate político mais informado e construtivo.

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