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O “Tio” Vladimir, novo aliado do ocidente?

Por Tobias

O “Tio” Vladimir, novo aliado do ocidente?

Vladimir Putin & Donald Trump


A jogada de Kissinger na China

Era o ano de 1971 quando Henry Kissinger, Conselheiro de Segurança da Casa Branca sob a administração de Richard Nixon, escapou disfarçado de um jantar com o presidente do Paquistão para embarcar em uma operação de diplomacia secreta na China. Esta missão, posteriormente conhecida como 'Operação Marco Polo', levou Kissinger a Pequim com o apoio logístico das autoridades paquistanesas e o objetivo final de organizar uma cúpula diplomática entre Nixon e Mao Tse-Tung. Após 17 horas de negociações com o primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, Kissinger informou Washington sobre o sucesso de sua missão, abrindo caminho para a histórica reunião de 1972.

De uma perspectiva ideológica, esses acontecimentos poderiam parecer incomuns se tirados de contexto. Naquele momento, o principal objetivo de Kissinger era se aproximar da China, enquanto os Estados Unidos estavam profundamente envolvidos em uma corrida armamentista com a União Soviética. A cúpula com Nixon só ocorreria sob a condição de que os Estados Unidos aceitassem a posição da China sobre Taiwan como parte inalienável de seu território, uma posição conhecida como a política de 'Uma só China'. 'Assim será', afirmou Kissinger repetidamente durante as negociações secretas.

Deixando de lado a ideologia e priorizando os interesses estratégicos, Kissinger promoveu este encontro com a intenção de criar uma divisão entre os países da esfera socialista. O pragmatismo de ambos os líderes foi evidente durante a cúpula, onde Mao elogiou Nixon, dizendo: ‘Gosto dos direitistas. Eles dizem o que pensam. Não como os esquerdistas, que dizem uma coisa e pensam outra.’ Este encontro entre Nixon e Mao não apenas foi fundamental para a distensão entre os Estados Unidos e a China, mas também marcou o início do que eventualmente se tornaria a China moderna, uma entidade que hoje desperta tanto admiração quanto preocupação no Ocidente.

Rússia, China e Ocidente.

Este ano, os Estados Unidos enfrentam eleições existenciais que colocam Kamala Harris contra Donald Trump. A primeira, vice-presidente da atual gestão, apoia cegamente a Ucrânia em seu conflito bélico com a Rússia e pretende continuar pressionando a Rússia para fora do Ocidente e denunciando suas práticas extorsivas em matéria energética em relação ao resto da Europa. A eleição de Kamala Harris como presidente dos Estados Unidosimplicaria dar continuidade às sanções que recaem sobre o país após sua invasão à Ucrânia, assim como também o envio de recursos econômicos e militares ao país. Por outro lado, Harris garantiria proteção à Europa contra os avanços expansionistas do leste, além de manter as sanções contra a Rússia por suas perseguições às dissidências sexuais e a permanente violação dos direitos humanos.

Trump, por outro lado, tem uma postura muito mais amena em relação à Rússia. Desde o início, Trump tem sido muito condescendente com seu par russo, Vladimir Putin, enquanto, ao mesmo tempo, se encarrega de enaltecer sua própria figura ao afirmar que a Rússiajamais teria se atrevido a invadir a Ucrânia se ele ainda estivesse na Casa Branca. Repetidamente, Trump tem buscado moderar o relato existente nos Estados Unidos sobre Putin; durante entrevistas, quando o entrevistador se referia a Putin como um 'assassino', Trump respondia: 'Aqui há muitos assassinos. Você acha que nosso país é tão inocente?' 

Dentro do campo republicano, jornalistas militantes de ultradireita como Tucker Carlson ecoam uma ideia de pertencimento da Rússia ao Ocidente enraizada em valores comuns como a religião judeocristã, como parte dos laços que tornam a Rússia um aliado natural do Ocidente. Carlson, que entrevistou Putin em fevereiro de 2024, até mesmo apoiou Vladimir Putin em sua administração local. Após a entrevista, Carlson se referiu a cidades como Moscou ou São Petersburgo como cidades limpas, sem criminalidade e com um transporte público excepcional. O jornalista encerrou sua intervenção perguntando: 'Por que não podemos fazer isso nos Estados Unidos?'

O inimigo do meu inimigo

Assim como Nixon na década de 70, Donald Trump parece querer replicar a estratégia implementada por Kissinger para enfrentar a União Soviética durante a Guerra Fria. Kissinger acreditava que tanto a China quanto os Estados Unidos podiam se ver mutuamente como contrapesos contra a União Soviética. No entanto, o Muro de Berlim caiu em 1989, e o comunismo fracassou como modelo político, econômico e social.

O mundo da pós-guerra fria se tornou um ambiente muito mais multipolar e instável, especialmente após a pandemia. Nesse novo contexto, a China emerge como uma potência em ascensão, o que representa uma ameaça para os Estados Unidos. Antes da pandemia, Donald Trump já havia avançado em uma intensa guerra comercial contra o gigante asiático.

Tudo indica que uma eventual vitória do partido republicano poderia levar ao fim do conflito no leste da Ucrânia iniciado em 2022. Vários meios de comunicação ocidentais, como DW ou o País têm divulgado sutilmente mapas que mostram as áreas controladas pelos russos no leste da Ucrânia, que passariam a fazer parte da Federação Russa caso Trump “resolvesse o conflito em 5 minutos”, como prometeu, e buscasse agir em conjunto com a Rússia contra a China.

Este cenário seria um resultado extraordinário para Vladimir Putin se tais suposições se concretizassem. Desde o início do conflito na Ucrânia e devido às sanções do Ocidente, a economia russa temdependido cada vez mais do gigante asiático, o que permitiria a Putin expandir seu território e, ao mesmo tempo, dissociar-se economicamente de Pequim. Seria, em todo caso, uma jogada master do ex-KGB.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os meios de comunicação dos Estados Unidos popularizaram um pseudônimo para o sanguinário ditador Joseph Stalin, transformando-o de um ateu e anticapitalista no afável “Tio” Joe. Será uma questão de ver o que acontece em novembro deste ano na corrida pela presidência dos Estados Unidos para determinar se Vladimir Putin, o autocrata homofóbico, passa a se tornar o “Tio” Vladimir.




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